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Candinho: Memória Viva da Luta e Protagonismo Negro em Viçosa

Ontem, dia 20 de novembro, celebramos o Dia de Zumbi e da Consciência Negra, pela primeira vez como feriado nacional, conforme a Lei n.º 12.519, sancionada em 2023. Este dia não é apenas uma homenagem; é um ato de preservação da memória negra, apagada na narrativa oficial da história brasileira, e que nas últimas décadas tem sido retomada. Ao destacar o 20 de novembro, aniversário da morte de Zumbi dos Palmares, o Movimento Negro ressignificou as lutas contra a escravização no Brasil, em oposição ao 13 de maio, criticado por ignorar o protagonismo negro na busca pela liberdade¹ . A memória aqui é ferramenta essencial para construir identidade, preservar afetos e ressaltar histórias que resistem ao esquecimento.

Nesse espírito, o Museu Histórico da UFV traz à luz José Valentino da Cruz, o “Candinho”, figura marcante de Viçosa e da UFV. Nascido em  24 de novembro de 1913, em Viçosa, Candinho foi trabalhador, artista (ligado às Artes, Candinho tocava violão, escrevia, dirigia e atuava em peças de teatro, algumas apresentadas em cidades vizinhas. Destaque para “O negro não mente”, que ficou em cartaz por um ano e meio) e líder comunitário, cuja trajetória simboliza a luta por dignidade e igualdade. Ele dedicou 38 anos à antiga ESAV, onde, além de cozinheiro, exerceu papéis de liderança e conquistou respeito como amigo dos estudantes e defensor dos direitos dos operários. 


Sua atuação foi além da universidade: ele liderou a criação da Associação dos Operários e transformou as classes anexas em uma escola estadual que atendia trabalhadores no período noturno. Candinho também se envolveu em obras comunitárias, como o calçamento da Ladeira dos Operários, e ocupou o cargo de vereador por dois mandatos, representando a voz dos trabalhadores em uma época em que o cargo não era remunerado. Seu legado foi celebrado pela UFV com a criação da Medalha José Valentino da Cruz, em reconhecimento a servidores exemplares² .

Lembrar de Candinho neste dia é reafirmar o compromisso com a preservação da memória negra, destacando as contribuições de pessoas que, como ele, resistiram ao esquecimento e ajudaram a moldar nossa história. Celebrar o Dia da Consciência Negra é, sobretudo, um ato de justiça, reafirmando que essas memórias são parte fundamental de quem somos como sociedade.

Visita do Governador de Minas Gerais Magalhães Pinto ao Restaurante Universitário, entre os funcionários que o recepcionou encontra-se, à direita, o Sr. José Valentino da Cruz (Sr. Candinho). ³

Disponibilizado pelo Arquivo Central e Histórico da UFV, texto em homenagem à Candinho pela Imprensa Universitária da UFV, na Edição n.º 388 de 25/07/1975.⁴

Medalha disponível no Acervo do Museu Histórico da UFV. A medalha homenageia servidores técnico-administrativos da Instituição (30 anos de serviço homens e 25 mulheres), na comemoração anual do aniversário da UFV, no dia 28 de agosto.

¹ SILVA, V. C. P. . DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA NO BRASIL: ALGUMAS REFLEXÕES. Revista de História Bilros: História(s), Sociedade(s) e Cultura(s), [S. l.], v. 2, n. 03, 2022. Disponível em: https://revistas.uece.br/index.php/bilros/article/view/7582. Acesso em: 8 nov. 2024.

² JOSÉ Valentino da Cruz: Candinho. Personagens e Pioneiros da UFV. Disponível em: http://www.personagens.ufv.br/?area=joseValentino. Acesso em: 15 nov. 2024.

³ Disponível em: http://atom.ufv.br/index.php/image-14-3

⁴ Disponível em: http://atom.ufv.br/index.php/edicao-no-388

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